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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

UM REENCONTRO 25 ANOS DEPOIS

Dizem que a amizade construída nos bancos da escola resiste às intempéries, atravessa os tempos e perdura para sempre. Talvez seja verdade. Talvez, o certo é que hoje vivemos num mundo marcado pelo individualismo a degenerar-se pelo egoísmo exacerbado e materialismo avarento. Um mundo em que a amizade sincera tornou-se numa espécie rara em vias de extinção, quiçá por incapacidade de adaptação aos tempos modernos em que os valores morais subverteram-se a preponderância de bens materiais, do vale tudo e do salve-se quem puder. E, quando neste universo adverso alguém ou um pequeno grupo de pessoas tomar a iniciativa de reunir antigos colegas do banco da escola para num acto simbólico homenagear dois colegas finalistas que o destino prematuramente roubou a vida (NapoLeão Azevedo, Pilas e Luís Mendes, Xema) é algo de extraordinário e que merece ser aplaudido.

Aconteceu na sexta feira, 16 de Janeiro, no Restaurante Plaza-Park em Achada Santo António onde os finalistas do 7º Ano do Liceu Domingos Ramos, ano lectivo 1983/84 puderam se reencontrar após um período de 25 anos, com o nobre propósito de lembrar os dois ex-colegas acima mencionados: Pilas era um brincalhão, amigo de todos, sempre tinha uma anedota para distrair a malta. Possuía a mestria de temperar com o bom humor qualquer situação complicada mesmo quando as coisas saia-nos pelo torto, como aconteceu numa certa ocasião em que andamos pelo platô a angariar apoios para realização de um “passeio-convívio” e fomos mal acolhidos pelo proprietário de uma certa casa comercial. Mas felizmente contávamos sempre com o apoio formidável da então Transcor em termos de transporte e de outras instituições, assim regularmente podíamos, com alguma facilidade, organizar excursões para o interior de Santiago. O Xema, mais reservado e de bom caracter, era um amigo que não faltava às “balizinhas”. Dominava Matemática e Física como um domador de leões em apresentações de circo. Um colega dado às ciências exactas, por assim dizer. Ultimamente vivia em França e foi com muita consternação que tomamos conhecimento do seu falecimento. O NapoLeão seguiu a carreira de docência e foi Director do Liceu da Várzia.

Em ambiente descontraído e de confraternização (sobretudo porque não estava presente o chefe da turma) lá se foi revivendo passagens que por algum motivo ficaram marcadas e não faltou quem trouxesse à baila o 111, as “balizinhas” e por ai fora. Nem todos puderam estar presentes, como é obvio, mas boa parte compareceu. Convém lembrar também que éramos pouco mais de uma centena de finalistas, alunos provenientes de toda a região de Sotavento, porquanto havia um único Liceu a cobrir as ilhas de Santiago, Fogo, Brava, Maio e por vezes o Sal. Um único Domingos Ramos para a região sul a funcionar como Liceu e como Assembleia Nacional Popular de improviso no Salão “Josina Machel”. Mas nem por isso sentíamos coibidos com o aparato parlamentar com que tínhamos de conviver por ocasião das sessões. Da escadaria da entrada principal divertíamos, observando a chegada dos deputados, de fato ou de balalaica, cada qual no seu estilo pessoal. Não havia computador e muito menos Internet e conhecíamos “Magalhães” como professor de Geografia. Mas foi com agradável satisfação que podemos constatar que, concluído o ensino secundário, ninguém foi para o brejo. A turma se transformou num leque variado de profissionais: professores, jornalistas, empresários, engenheiros, economistas e ate um sacerdote. E porque não admitir que tal sucesso deveu-se, entre outros aspectos, a valores que nos foram transmitidos pelos professores? Afinal, quem entre nós, consegue esquecer o respeitado Professor Antero Barros ou o grande mestre de Filosofia, o amigo Professor Djick.

Uma sessão de fotografias dos que já são vovós fechou o encontro. Parabéns aos promotores da iniciativa, Ana, Lina, Tany e Lourenço.  Valeu pessoal, até próxima.


Publicado no Liberal em 02/02/2009
http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=22208&idSeccao=543&Action=noticia

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