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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

AFINAL, PARA QUANDO A REDUÇÃO DO PREÇO DOS COMBUSTIVEIS EM CABO VERDE?

Na primeira semana do mês de Julho de 2008, o preço do petróleo no mercado internacional bateu o recorde histórico de 147 dólares o barril. Se por um lado a escalada do preço de hidrocarbonetos representava um sufoco para o consumidor final, para as empresas petrolíferas constituía oportunidade impar de acumulação de avultados lucros e sucessiva valorização da respectiva cotação nas bolsas de valores. A Shell, por exemplo, uma das maiores multinacionais do sector petrolífero, anunciou, em finais de Janeiro deste ano, o seu recorde histórico de resultado positivo apurado em 2008 - 31.4 biliões de dólares. A Exxon Mobil, a petrolífera americana, também já anunciou a distribuição recorde de dividendos referentes ao ano transato no montante de 40 biliões de dólares. Não seria de todo falacioso concluir que o aumento do preço dos combustíveis ao consumidor final não se justifica apenas pelo incremento do preço do brent como também camufla boa dose de ganância por ganhos exorbitantes.

Com o aumento desenfreado do preço no mercado internacional, enquanto os consumidores suportavam facturas cada vez mais onerosas, as empresas do ramo contabilizavam lucros de até 70 milhões de Euros por dia. Situação preocupante que levou o primeiro-ministro luxemburguês, a avançar com a ideia de uma tributação adicional sobre os lucros das petrolíferas, as principais beneficiadas da alta do preço do petróleo. Entretanto, esta proposta caiu por terra, com a oposição intransigente da Holanda e de mais outros três países. E não é de se estranhar a posição da Holanda se tivermos em conta que a Shell é uma gigante anglo-holandesa.

No segundo semestre de 2008 assistimos à desvalorização do ouro negro no mercado internacional. E assim, a partir do mês de Julho, a cotação entrou em queda livre, tendo registado, em Novembro, uma perda de mais de 100 dólares por barril que chegou a ser cotado a 40 dólares nas principais bolsas de valores do mundo. De Novembro a esta data o preço manteve-se relativamente estável, situando-se na casa dos 40–45 dólares o barril, o mesmo preço pelo qual foi comercializado em 2004. Quase cinco meses depois de ter atingido a cotação mais baixa dos últimos cinco anos, em Cabo Verde o preço dos combustíveis ainda continua nos píncaros.

No decurso do ano de 2008, o ajustamento do preço a nível nacional acompanhou a par e passo a escalada no mercado internacional, com a reacção quase imediata das autoridades competentes nessa matéria. Assim, o primeiro ajuste do ano chegou a 26 de Março, o segundo aumento a 27 de Junho e o terceiro a 05 de Setembro. A reacção interna acontecia com intervalos de 2 meses ou até menos, como foi o caso do ajuste verificado a 5 de Setembro. Um governante, questionado sobre os sucessivos aumentos, teria afirmado que “O que está a acontecer em Cabo Verde está a acontecer em todos os países do mundo, que estão sob esta pressão inflacionista...”. Nada a reclamar. Só que a situação inverteu-se “em todos os países do mundo” e em Cabo Verde desta feita não tem estado a acontecer o mesmo.

A explicação da Agencia de Regulação Económica de que o stock actual de combustível teria sido adquirido quando o preço do crude estava nas nuvens já não convence ninguém. Pelo espaçamento temporal com que os aumentos verificaram-se em 2008 pode-se inferir que a capacidade de armazenagem das empresas nacionais é de aproximadamente 2 a 3 meses. Entretanto entramos já no quinto mês, desde que o preço do petróleo atingiu o nível de 2004 no mercado internacional, e continuamos ainda em Cabo Verde com o tal stock comprado a peso de ouro. Já houve algumas ligeiras reduções como que simplesmente para ludibriar o consumidor. Ora, em 2004 a gasolina, por exemplo, foi tarifado a 110 escudos o litro, enquanto hoje pagamos 167 escudos, com o brent a ser comercializado ao mesmo nível de há cinco anos. Sabemos que está aí inclusa a tal Taxa de Manutenção Rodoviária, mas esta constitui matéria bastante para um outro texto.

Bem que se podia aproveitar agora que o ouro negro está a ser vendido a preço de banana para se fazer uma boa armazenagem de combustível e assim nos compensar quando a situação se inverter no mercado internacional. Caso contrário corremos o risco de apenas ouvir falar de preços baixos porque a 15 de Março próximo os integrantes da OPEP vão se reunir em Viena para entre outras questões decidir uma segunda corte consecutiva na produção diária e assim estimular o incremento do preço por barril.

Uma outra questão pertinente, é que enquanto o preço dos combustíveis ia sofrendo aumentos sucessivos, os fornecedores de energia, água e serviços de transporte reclamavam o aumento das respectivas tarifas. Será que com a eventual redução do preço dos combustíveis essas tarifas serão revistas? Ficamos aguardando.

Publicado no Liberal em 05/03/2009
http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=22494&idSeccao=527&Action=noticia

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