Páginas

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Taxa ecológica, taxativamente ecológica

Certo dia, um agente da policia de transito, tendo chegado ao fim do dia sem ter tido a chance de aplicar uma multa, avistou um conhecido padre da Cidade Velha a aproximar na sua motorizada. Fez sinal de parar, ao que o clérigo obedeceu prontamente, pediu documento, deu uma breve vistoria ao modesto veiculo, parecia estar tudo normal. Parecia... mas o perverso agente, sem nenhuma piedade, aplicou uma multa a esse pobre servo de Deus. O sacerdote, com a sua calma divina reagiu humildemente: Mas, senhor agente, porquê? Eu vinha tranquilamente, eu e Deus, sem infringir absolutamente nada, porquê a multa? E o agente atirou-lhe esta: É exactamente isso, senhor Padre, Deus! Deus vinha sem capacete!

Agora, falando sério, essa tal taxa ecológica, faz lembrar essa anedota. Em meio a uma crise alguém surge com uma ideia genial, mais uma taxinha, o povo aguenta. Sempre aguenta! Provavelmente a cumprir a sina da convergência normativa, uma canga que nos vem sendo imposta em nome da parceria especial, OMC e quejandos.

TAXA ECOLOGICA!? Porquê, e para quê? E a contrapartida!? Onde? Quando? E como? O ABC do direito tributário nos ensina que ao contrario do imposto, a taxa implica sempre uma contrapartida de algo que se recebe em troca. No caso da taxa ecológica qual é a contrapartida? Será que já foi instalado algum sistema de recolha selectiva do lixo? Já existe alguma unidade de tratamento do lixo? Já foi implantado alguma infra-estrutura de reciclagem e re-aproveitamento das embalagens vazias? Como ficam o lixo e a poluição industrial produzidos em Cabo Verde?

Efectivamente as taxas são uma espécie de parasita ou praga devastadora que aos poucos vão corroendo o nosso orçamento familiar a ponto de chegarmos numa altura em que esse pobre ordenado será apenas para pagar as taxas. Vejamos uma pequena amostra.

Taxa ecológica, esta, ignorando o tempo de crise em que nos encontramos, com o aumento exorbitante dos preços dos combustíveis e dos géneros de primeira necessidade, foi importada directamente da Europa para as ilhas. Com urgência, porque senão iríamos ficar entulhados em garrafas e latas vazias. Não seria aconselhável aguardar que a crise amainasse? Numa hora de apertos com o preço do pão e da água a marinhar por faixas não comestíveis, esse encargo adicional é, de facto, taxativamente ecológico.

Taxa de manutenção rodoviária, seu habitat são os postos de combustíveis. Ao parar num posto para abastecer o seu veiculo recebes sete ferroadas por litro que adquirir. Dizem que é para tapar buracos na estrada. E o buraco que fica no bolso, quem o tapa? Da ultima vez que estive na ilha Brava desloquei-me da Vila de Nova Sintra ao Cachaço num desses nossos conhecidos mini-bus, o tal Hiace. A certa altura o motorista que faz este percurso diariamente diga-se, aos ziguezague para driblar buracos, atirou-me esta: Esta a ver o estado desta porcaria de estrada, entretanto pagamos sete escudos por litro de combustível para a sua manutenção.

Taxa de RTC[1], esta virou endémica, com tendencia a cair no esquecimento. Persiste disfarsada, por entre folhagens de facturação, numa camuflada simbiose eléctrica, ignorando que actualmente existem várias opções em termos de canal televisivo. 
Moradores de Fajã d’Agua, consolem-se, consolem-se!

Um conhecido meu, do interior da ilha do Fogo, depois de algum esforço lá conseguiu por a funcionar um pequeno aviário para ajudar nas despesas da família. Depois de passar pelo calvário da Electra, como é de praxe, fizeram-lhe ligação de electricidade nas instalações. Entretanto, já na primeira factura lá estava escarrapachada a taxa de RTC. Galhofeiro como ninguém sabe ser, atirou esta para quem quisesse ouvir: Caramba! ainda, nem sequer comprei televisão para as galinhas!

Taxa de iluminação publica, esta continua á espreita. É como quem, estando no aconchego da sua cama, protegido por uma rede, ouve o zumbido frenético de um mosquito faminto que busca uma chance de ferroar a vitima. Mais tarde ou mais cedo esta praga acabará por se alastrar.

E assim, de taxa em taxa vamos seguindo, até que um dia a taxa (do covato)
nos encaixa, para sempre...

[1] Taxa cobrada pelo serviço público de televisão em Cabo Verde na factura de electricidade.

O XEFI

Quando McGregor concebeu a TEORIA X, estaria, este pensador americano, a imaginar um Chefe com X? É bem provável. Veja o que uma jornalista da destak.pt, Isabel Stilwell, nos diz sobre este assunto num artigo intitulado "Maus chefes provocam ataques de coração", trecho que com devida vénia transcrevo aqui.

“... se quer mesmo garantir a sua sobrevivência, e apesar da dificuldade em encontrar novos empregos, fuja a sete pés dos chefes incompetentes, irascíveis e injustos, porque o efeito desta gente sobre a sua saúde pode revelar-se mortal. Pelo menos é o que diz o estudo de uma equipa sueca que acompanhou mais de 3 mil trabalhadores homens, com idades entre os 18 e os 70 anos.

A primeira tarefa pedida às cobaias foi a de que avaliassem a competência e o carácter de quem geria o seu trabalho. Depois, durante uma década, a sua saúde foi sendo avaliada, registando-se neste período 74 casos de empregados vítimas de problemas cardíacos graves, nalguns casos até fatais. Do estudo à lupa de todo este trabalho, foi possível perceber que existe, de facto, uma relação directa entre a doença e os maus chefes. Era esse o factor de risco que todos tinham em comum, e que assumia mais peso do que factores de risco como o tabaco, ou a falta de exercício.

Descobriram, ainda, que o efeito que um incompetente a mandar provoca é cumulativo, ou seja, se trabalhar para um idiota aumenta em 25% a probabilidade de um enfarte, essa probabilidade crescia para 64% se o trabalhador se mantivesse naquela situação por mais de quatro anos.

A explicação é relativamente simples: quando alguém se sente desvalorizado, sem apoio, injustiçado e traído, entra em stress agudo que leva à hipertensão e a outros distúrbios que deterioram a saúde do trabalhador. Daí a importância do apelo que estes especialistas fazem de que as estruturas estejam atentas e «abatam» rapidamente os chefes que não merecem sê-lo.”

De facto, o chefe “tipo Xerife” preocupa, não com decisões estratégicas de gestão, mas sim, com medidas de coacção e de controles burocráticos. Desperdiça tempo e recursos com pormenores sem muita expressão, implementando, aprimorando ou desenvolvendo ferramentas que lhe permite controlar situações rotineiras, aspectos de natureza puramente secundaria que não agregam valor ao resultado final da organização, servindo tão somente para aporrinhar a vida dos outros.

É sabido que o sucesso de uma organização depende em grande parte da capacidade de liderança de quem a dirige. Entretanto existe uma grande diferença entre um “chefe” e um “líder”. Chefe é alguém que exerce uma autoridade administrativa para defender interesses burocráticos, enquanto que o Líder é uma pessoa que, em virtude das suas capacidades de comunicação e de exercer influencia sobre os outros, dirige a organização com a participação activa dos seus membros, procurando sempre alcançar um objectivo que dignifique a organização.