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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

E SE VIVÉSSIMOS EM PERMANENTE CAMPANHA ELEITORAL!


Circulou por e-mail e, provavelmente, deve ter ido parar ao seu inbox, uma parábola que narra a história de um tal fulano que, depois da morte, já no céu, foi confrontado a escolher entre o paraíso ou o inferno para passar a sua eternidade. Apesar de ter optado, sem qualquer hesitação, pela primeira alternativa, São Pedro convenceu-lhe a dar uma olhada no território de ferrabrás. E assim foi. Entretanto, tendo encontrado um ambiente de euforia, uma festança à tripa forra, comunicou, de imediato, a São Pedro, a sua decisão de lá permanecer. No dia seguinte, porém, o inferno transformou-se num lugar deplorável, triste e sem aquela agitação animada do dia anterior. O infeliz foi, então, reclamar com o chefe, de quem obteve a seguinte resposta: Ontem estávamos em campanha eleitoral, meu caro.

Outro dia, fui até a um balcão da Policia Nacional para requerer uma declaração de extravio de documento para efeitos de emissão de segunda via do BI, conforme é de praxe. Foi simplesmente fantástico. O documento em questão foi passado na hora, de graça e com uma simpatia fora do comum. O formulário já estava carimbado, assinado e tudo. Só coloquei meus dados e pronto. Ficou pronto, assim, num ápice.

Surpreendido com inusitada celeridade, comentei com a agente que me atendeu. Não pode ser possível! Algum tempo atras, estive aqui a solicitar o mesmo documento para um parente meu, primeiro mandaram-me redigir um requerimento, depois entregaram-me um formulário para preencher e efectuar o pagamento nos balcões da Caixa, de seguida, esperei pelo despacho do chefe e no final de uma semana passei pela terceira vez aqui para fazer o levantamento da declaração. E agora, despachas-me assim, zás, num piscar de olhos! E ela, com um sorriso visivelmente afável, fez-me lembrar que “Estamos em campanha eleitoral.” Ah bom! percebi...

Sorte minha, o BI também foi totalmente gratuito, incluindo fotografia colorida tirada na hora e no local. Ah se a campanha eleitoral fosse para sempre!

Macacos me mordam! gente fina, pessoas que estamos habituados a ver apenas na televisão, ou a circular em carrões, vidro fumado, as vezes com escolta e tudo, assim de repente, largam toda essa mordomia, e viram amigos de todo mundo, estendem a mão a qualquer um, lançam-se afanosamente pelos cobons, achadas e ribeiras, feito condenado em busca de salvação, vão ao pelourinho, abraçam o povo, distribuem beijinhos a tudo quanto é rosto humano que se lhes apresenta, sobem ladeiras e cutelos incansavelmente, em busca desse elemento mágico do sistema democrático: o voto. É como quem diz, de grão a grão enche a galinha o papo.

À noite, regressam cansados, todos cuspidos de tanto beijocar o povo e com aquele típico odor apanhado nos abraços de quem labuta o dia inteiro para ganhar a vida. A democracia é fixe! mas tem essa grande chatice, O lado menos aprazível talvez seja esta obrigação que, os que praticam o dito ofício, tem de periodicamente se chafurdar com o povão. Agora começo a entender qual é o maior pavor dos tiranos.

E, eu que faço parte do povão, até ouvi dizer que andaram a distribuir isto mais aquilo. Fulano, deram-lhe uma televisão. Sicrano finalmente conseguiu ligação de água em sua casa. Bem que estava precisando de umas duas caixas de mosaico para dar um jeito lá em casa, mas ninguém me ofereceu nada. Será que ninguém sentiu coragem de se aproximar de mim e tentar pechinchar meu voto. Ou será que tudo não passa de imaginações das língua-de-víboras.

E o infeliz que julgou que a festança fosse para continuar, levou, já no dia seguinte, uma cacetada com o aumento do preço dos combustíveis que alimentam todas as fogueiras do inferno.

A gente se vê na próxima campanha, até lá!


Publicado em 07 de Março de 2011 em: