Afinal a pandemia da gripe suína foi só um susto. Mas não um susto inocente e despropositado, desses que a gente prega a uma pessoa amiga que não víamos há muito e assim aproximamos devagarinho pelas costas, tapando-lhe os olhos com as mãos. Não, não é desse tipo de susto que estou falando. Quase já virou moda assustar o mundo com ameaça de pandemia e assim criar condições para a indústria farmacêutica facturar uma grana preta, às custas do desespero de cada um. Foi assim com a gripe-das-aves. E agora com a gripe suína. Vamos esperar para ver o que nos vão arranjar da próxima.
Foi terrível a notícia da pandemia de gripe suína. Quando foi anunciado o primeiro caso registado num povoado do interior montanhoso do México, o mundo inteiro arrepiou-se só de ouvir falar desse estranho vírus oriundo de suínos. Os porcos são animais repugnantes, vivem na lama, é de se esperar que uma doença originária desses animais nauseabundos, transmitida aos humanos pela via respiratória, causasse pânico a nível mundial. Entretanto, os gigantes da indústria farmacêutica esfregaram as mãos de alegria com a possibilidade de lucro à vista. Já dizia o velho ditado: O mundo pertence aos espertos.
Hoje, mais do que nunca, estou convencido de que tudo o que vem do porco dá dinheiro. É lucro garantido. Torresmo, chouriço, presunto e agora o vírus H1N1. Em Cabo Verde não é novidade admitir que quase todas as famílias engordam o seu porquinho, porque sabem que ter um porco gordo no chiqueiro é a certeza de ter um bom pé-de-meia para momentos de maiores apertos. O que não era de se esperar é que multinacionais do ramo farmacêutico, também vissem nessa tal espécie oportunidade de ganhar dinheiro, da forma como o fizeram. Só o Governo Francês tinha inicialmente encomendado 94 milhões de doses da vacina contra a gripe suína, por uma soma total de quase 900 milhões de Euros suportados pelo erário público.
Um excelente negócio para a industria farmacêutica. Mas o tiro saiu-lhes pela culatra. Quando perceberam que o cenário dantesco de um universo completamente suíno-gripado não se ia consumando, eis que entraram em pânico sobretudo com a pandemia de cancelamento das encomendas. Primeiro a Alemanha, depois a França, cortaram pela metade a encomenda das vacinas uma vez que se confirmou que apenas uma dose, e não duas como inicialmente recomendado, é suficiente para imunizar uma pessoa.
Na opinião do Presidente da Comissão de Saúde do Conselho da Europa, a campanha da “falsa pandemia da gripe, criada pela OMS e outros institutos em benefício da Industria Farmacêutica, é o maior escândalo do século, na Medicina” e ordenou a abertura de uma investigação sobre o caso. “O diagnóstico era falso e custou muito dinheiro. Só na Europa, foram gastos 5 mil milhões de Euros com as vacinas para a gripe A”.
Em Cabo Verde se toda a atenção das autoridades sanitárias não estivesse direccionada para a questão da gripe A, quem sabe, poderiam ter detectado atempadamente a presença da dengue nas ilhas, que segundo os entendidos nessa matéria, tem praticamente os mesmos sintomas da gripe suína. Este sim, foi um bom susto para todos nós, e o fantasma não está ainda totalmente esconjurado.
E nesta história, ninguém saiu perdendo. É como quem diz, no açougue do gado suíno nada se perde, tudo é aproveitado, inclusive as miudezas. E como que fazendo jus ao ditado, o menino de quatro anos a quem foi diagnosticado o primeiro caso de gripe suína no México, foi imortalizado com uma estátua de bronze colocada no povoado onde vive, para atrair turistas. Sim, para atrair turistas!
Publicado no Liberal em 15/02/2010
http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=27228&idSeccao=527&Action=noticia
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