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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) NUMA PERSPECTIVA ESSENCIALMENTE TÉCNICA


 “As pessoas são a verdadeira riqueza de uma nação.”
Mahbub ul Haq – Economista paquistanês, autor da formula de cálculo do IDH.

Uma incursão pela história do pensamento económico pode nos revelar que desde os tempos remotos sempre existiu a preocupação de se quantificar a riqueza ou o poder económico de um pais ou região num determinado momento da sua história.

No feudalismo, o poder residia basicamente nas dimensões do feudo e na sua capacidade produtiva consubstanciada na força de trabalho dos servos do senhorio. Já na época do mercantilismo, o sistema económico sucessor do regime feudal na Europa ocidental, a riqueza de uma nação era avaliada pelo stock de metais preciosos acumulados, particularmente do ouro e da prata. São, de facto, etapas da história da humanidade em que denominações como “desenvolvimento humano”, “bem-estar social” ou “justiça social” eram conceitos inequivocamente estranhos às preocupações e desafios desse período da história.

Com o advento das teorias da economia contemporânea, a partir da publicação de “A Riqueza das nações” de Adam Smith (1723-1790), introduziu-se o conceito de Produto Interno Bruto (PIB) para quantificar de forma mais concisa a riqueza gerada por um pais num determinado momento. Assim, durante longos anos, o PIB e o rendimento per capita tinham sido os únicos instrumentos econométricos utilizados para classificar um pais como sendo “rico”, “menos rico”, “pobre”, ou “muito pobre”.

O rendimento per capita, sendo uma média aritmética simples obtido do quociente do PIB pelo número de habitantes, pode camuflar e, efectivamente, distorce em grande medida, o panorama socio-económico da população de um país. Pelo simples facto de nem sempre existir uma proporção lógica entre a riqueza produzida por um determinado país e a qualidade de vida da respectiva população. De modo que o indicador BIP não pode e nem deve ser considerado como um fim em si próprio. É apenas um meio que permite à população ter melhor acesso à saúde e à educação, dependendo das políticas de distribuição de renda adoptadas pelos governos, entre outros factores.

A ONU, através da sua agência PNUD, esteve durante um longo período empenhada na busca de uma metodologia de cálculo que melhor retratasse o estágio de desenvolvimento de um pais, capaz de combinar o crescimento económico com o nível de desenvolvimento humano.

Até que, em 1990, um economista Paquistanês coadjuvado por um colega Indiano, equacionou uma fórmula bem acolhida pela comunidade internacional. O mérito residia no facto de terem conseguido combinar o crescimento económico com indicadores do bem-estar social designadamente, educação e esperança média de vida à nascença, admitindo que este ultimo, depende de factores como saúde e um padrão de vida condigno da população. O IDH é também uma média aritmética simples de três indicadores: taxa de escolaridade, esperança média de vida à nascença e o rendimento per capita ajustado pela chamada Paridade de Poder de Compra (PPC).

O objectivo central do IDH não consiste em comparar índices entre diferentes países, como se de uma competição se tratasse, até porque existem factores de natureza religiosa, cultural e histórica que, em muitos casos, dificultam a comparabilidade do que se pode designar de “bem-estar social” entre diferentes países do mundo.

O propósito primordial do IDH visa determinar a posição em que cada país se encontra numa escala de 0 a 1 em que a meta “1” representa a satisfação plena das necessidades da população, seja do ponto de vista material, seja do ponto de vista espiritual. E nessa perspectiva, interessa mais observar a evolução histórica dos índices de um determinado pais, particularmente as alterações ocorridas em períodos quinquenais.


IDH de CABO VERDE desde 1990
ANO
1990
1995
2000
2005
2006
2007
Índice
0,589
0,641
0,674
0,692
0,704
0,708


O ranking organizado pela PNUD acaba, efectivamente, por revelar o fosso de desigualdades, por exemplo, entre a Noruega (no topo da lista) e Níger (no último lugar), num universo de mais de 180 países.

Todavia, interessa analisar também o grau de eficiência das políticas públicas de um país na conversão da riqueza gerada no seu território em bem-estar social para a respectiva população. Tal eficiência pode ser obtida da subtracção da ordem do PIB per capita pela ordem do IDH, cujo resultado pode ser um número positivo ou negativo. No caso de Cabo Verde, esta operação resulta num número positivo igual a 5, e o Gabão, por exemplo, cujo IDH situa-se na posição 103º, tem uma ineficiência de -49, situação característica de alguns países produtores de petróleo em que é bastante acentuada a desproporção entre o rendimento per capita e o IDH, a sinalizar de que a riqueza é concentrada em mãos de uma minoria.

Publicado em 23/10/2010
http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=25550&idSeccao=527&Action=noticia

1 comentário:

  1. Artigo relacionado: Medir o êxito de um país pelo PIB ainda faz sentido?
    O mecanismo em questão é o Índice de Progresso Social (SPI, na sigla em inglês)

    http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/04/140418_pib_mm.shtml

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