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terça-feira, 12 de outubro de 2010

O VULCÃO DA ILHA DO FOGO E SUAS POTENCIALIDADES

Historicamente, os vulcões sempre exerceram um grande fascínio sobre os povos que se estabeleceram nas suas imediações. Crenças populares, mitos e lendas relatam a admiração e devoção de povos que coabitaram com a presença de vulcões e suas manifestações ao longo dos tempos. Uma das lendas mais enigmáticas acerca do poder dos vulcões, é a que envolve o desaparecimento instantâneo da Atlantida, narrado por Platão e que nos da conta da submersão repentina do lendário continente, cuja localização – segundo Platão – seria no Atlântico médio, actual região da macaronesia. (Não seria as ilhas de Cabo Verde parte do que sobrou desse continente perdido?).

Efectivamente, ao longo dos tempos, sentindo-se impotentes perante a força bruta da natureza protagonizada pelos sismos e erupções vulcânicas, muitos povos passaram a considerar os vulcões como divindades e as culturas que floresceram nas suas imediações foram de alguma forma influenciadas pela presença desse elemento da natureza. Sem uma explicação racional, muitos povos acreditavam ser as erupções vulcânicas explosões de fúria de gigantes mitológicos que viviam nas entranhas da terra.

Apesar de nos dias de hoje essa crença não passar de uma lenda mesmo, as pessoas ainda encaram os vulcões com um misto de admiração e temor: admiração pela sua beleza e temor pelo seu tremendo poder destrutivo. Esta constatação talvez explique um outro poder dos vulcões que se revela benéfico nos nossos dias – a sua enorme capacidade enquanto atractivo turístico - e que nos interessa no âmbito deste pequeno texto. Podemos encontrar algumas dezenas de vulcões ao redor do mundo que pela sua importância enquanto destino turístico desempenham um papel fundamental na actividade economia das comunidades situadas nas suas proximidades. No Japão, o vulcão Fuji Yama, emblema do pais é considerado símbolo da eternidade e de pureza e é venerado pelos japoneses com festividades e cerimonias religiosas, havendo inclusive santuários no sopé do vulcão dedicados à divindade da montanha. O Monte Fuji, como é vulgarmente conhecido, tem servido de fonte de inspiração a vários artistas, sendo frequentemente retractado em obras de pintura, fotografias e também abordado em obras de literatura. Estima-se que anualmente uma media de 300 mil turista visitam o Fuji Yama.

No Havaí, arquipélago situado no oceano pacifico, a atitude generalizada dos nativos em relação ao vulcão Halemaumau continua sendo de devoção e veneração, marcada sobretudo por oferendas de flores que são atiradas para o interior da cratera onde, segundo reza uma lenda, vive a deusa havaiana dos vulcões. Em torno do vulcão existe uma mega-industria voltada ao turismo de aventura para servir a curiosos que querem não só ver de perto um vulcão, como também aventurar-se numa escalada ao topo. Os operadores turísticos estimam que uma media de 200 mil turistas visita anualmente a região vulcânica do Havaí. Em Itália, o lendário Vesúvio, um dos vulcões ainda activo na Europa, recebe anualmente uma média de dois milhões de visitantes por ano atraídos também pela curiosidade de visitar as ruínas de Pompéia e Herculano, cidades que no ano 79 da nossa era foram soterradas pelo poderoso Vesúvio. Podíamos ainda citar outros exemplos como Kilimanjaro, Pinatubo, Monte de Santa Helena etc. Mas é curioso notar que em todos os casos os vulcões que fazem parte de pacotes turísticos vendidos sobretudo na Europa possuem um nome em torno do qual gira toda a acção de marketing e divulgação do destino. Assim temos Fiji Yama ou simplesmente Monte Fuji (e não o vulcão de Japão), Vesúvio (e não o vulcão de Itália), Halemaumau (e não o vulcão de Havaí).

A ilha do Fogo e seu vulcão possuem extraordinárias possibilidades no domínio turístico. Alias o panorama turístico de Cabo Verde pode ser agrupado em duas categorias: A vertente de “Sol e Praia” em que se destacam as ilhas planas de Sal, Boavista e Maio e uma outra categoria a que podemos chamar de “Montanhas”, abrangendo as demais ilhas, com destaque para Santo Antão e Fogo. Entretanto os visitantes não vão desembarcar em massa na ilha do Fogo só porque existe lá um vulcão. Um destino turístico não existe por si só, tem que ser construído, havendo potencialidades para tal. As infra-estruturas de acesso e os serviços de apoio são fundamentais neste processo de construção do destino. Em relação ao Havaí, por exemplo, até existe um site na Internet dedicado exclusivamente a orientar e aconselhar os visitantes sobre como escalar o cone vulcânico. Na Coréia do Sul houve um grande esforço orientado no sentido do vulcão de Jeju e os respectivos "túneis de lava" serem considerados Património da Humanidade, o que efectivamente acabou por acontecer. O vulcão “Teide-Pico Viejo” situado no arquipélago das Canárias encontra-se também na lista de candidatura a esse titulo. Mesmo que não venha a ser contemplado pela UNESCO, já só pelo facto de fazer parte da lista de candidatura torna-o mais visível a nível mundial, e o interesse em visita-lo tende a crescer.

O Vulcão de Chã das Caldeiras é um símbolo de Cabo Verde e da ilha do Fogo em particular, sendo o ponto mais alto de toda a África Ocidental, reúne todas as condições para entrar na lista das regiões do mundo que se candidatam ao titulo de Património da Humanidade. O certo é que ainda não lhe foi dispensado atenção suficiente e nem as suas potencialidades turísticas exploradas convenientemente. Em síntese, podemos apontar 3 outros exemplos que eventualmente poderão lhe conferir maior visibilidade: A inserção da imagem do vulcão numa das próximas emissões de nota-moeda do Banco de Cabo Verde; a designação de uma data como sendo “o dia do Vulcão” em que os 3 municípios concentrariam esforços em torno de um programa de actividades comemorativas em honra ao vulcão; e a realização de um fórum internacional em São Filipe sobre o vulcão da ilha do Fogo e suas potencialidades turísticas, com a presença de potenciais investidores, operadores turísticos e imprensa estrangeira.



Publicado no Liberal em 24/11/2008
http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=21385&idSeccao=527&Action=noticia

2 comentários:

  1. na realidade os povos antigos acreditavam na existencia de gigantes que viviam nas entranhas da terra e que vomitavam as suas furias nas explosoes do vulcao segundo a mitologia

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