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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

AEROPORTO INTERNACIONAL DA ILHA DO FOGO - UMA NECESSIDADE A MÉDIO PRAZO

Foi inaugurado no passado dia 25 de Setembro o novo aeroporto de São Vicente embora ainda não esteja certificado para receber aviões de longo curso o que se prevê para breve. Com a sua certificação pela autoridade aeronáutica como Aeroporto Internacional, Cabo Verde passará a contar com quatro aeroportos habilitados a receber voos internacionais. Pela ordem cronológica as ilhas do Sal, Santiago, Boa Vista e por ultimo São Vicente ganharam uma infra-estrutura considerada alavanca do processo de desenvolvimento económico e social e agora porque não perguntar qual será a próxima ilha a ser contemplada com um aeroporto internacional.

A ilha do Fogo neste contexto surge como favorita por varias e fundadas razoes. Esta ilha tem sido desde 1975 bastante penalizada em termos de investimentos públicos e agora nessa onda de aeroportos internacionais não pode mais uma vez ser preterida em relação a qualquer outra ilha. Pode até parecer uma utopia falar de um aeroporto com capacidade para receber aviões de longo curso em São Filipe. Contudo aprofundando o assunto chega-se a conclusão de que é uma necessidade previsível a médio prazo no contexto do desenvolvimento do trafego aéreo de e para Cabo Verde.

Ha cerca de 10 anos atrás eram operados apenas dois voos semanais entre Cabo Verde e Portugal. Com a abertura do novo aeroporto internacional da Praia em 2004 o fluxo de trafego conheceu um crescimento exponencial e hoje são operados mais de trinta voos semanais entre Cabo Verde e Portugal em aviões cuja capacidade media rodam os 200 passageiros. Ora pode-se basear neste caso concreto para desenvolver um raciocínio lógico e projectar as perspectivas de desenvolvimento do trafego para a ilha do Fogo.

É do conhecimento de todos e as estatísticas confirmam que a maior comunidade cabo-verdiana da diáspora é a dos Estados Unidos da América sendo que a maioria dos seus integrantes são de origem das ilhas do Fogo ou da Brava. Uma das expectativas dos imigrantes indocumentados nos EUA é que com a vitoria de Barack Obama nas presidências de 04 de Novembro próximo o novo e primeiro Presidente Afro-Americano poderá eventualmente fazer aprovar uma lei visando a legalização e por conseguinte a regularização de milhões de imigrantes “ilegais” que vivem e trabalham actualmente nos Estados Unidos da América. A possibilidade de obter a documentação de residência, a tal “green card” com certeza ira fazer triplicar o numero oficial de cabo-verdianos residentes nos EUA e por conseguinte poderão viajar normalmente para Cabo Verde.

Esta circunstancia ira sem duvida criar condições favoráveis que viabilizem voos diários entre Boston e São Filipe. Efectivamente o potencial de trafego do mercado norte-americano é de longe superior ao do mercado português seja em termos de tráfego étnico seja a nível do trafego turístico e de negócios. Diria mesmo que EUA representa um mercado de futuro para a Transportadora Nacional que segundo consta vai iniciar duas frequências semanais com perspectiva de um terceiro voo no período de verão. Noventa porcento do trafego transportado nesses voos tem como destino a ilha do Fogo e da vizinha Brava.

Se alguns anos atras os passageiros tinham que sujeitar aos incómodos nos aeroportos do Sal e da Praia hoje já viajam directamente para a Praia de onde fazem a ligação domestica para São Filipe. Embora em menor escala, os constrangimentos ainda persistem particularmente no que toca ao transporte de bagagens entre Praia e São Filipe. Com voos diários para Boston e sabendo que o destino principal dos passageiros tem sido São Filipe na ilha do Fogo, não faz sentido manter a escala de ligação na Praia com todos os inconvenientes já conhecidos de todos. Actualmente o trafego pela via aérea para a ilha do Fogo ronda os 40 mil passageiros/ano. Quase cinquenta porcento desse trafego tem origem nos EUA. E esse fluxo poderá atingir o dobro com a melhoria das condições aeroportuárias e entrada em cena da concorrência na actividade de transporte aéreo.

A ilha do Fogo reúne todas as potencialidade para ter um aeroporto internacional. Que a ilha possui um grande potencial turístico, não é novidade para ninguém. Apreciar a imponência do vulcão é uma experiência extraordinária e deleitosa particularmente para um turista dos Países Baixos onde não existe qualquer tipo de elevação orográfica. Componentes do panorama turísticos tais como trekking, alpinismo, pesca desportiva, festejos populares, musica e dança típicas do Fogo são vectores de desenvolvimento do potencial turístico da ilha que no futuro poderão potenciar o fluxo do tráfego turístico para esta ilha.

A vertente do trafego de negócios também pode ser desenvolvida se forem criadas as condições que contribuem para atracão desse segmento de trafego, e a infra-estrutura aeroportuária figura-se como um dos requisitos de peso. Não se pode esperar que primeiro cheguem os grandes investimentos para depois então investir em infra-estruturas aeroportuárias, a lógica é inversa. Foi assim que aconteceu em todas as ilhas. A primeira instalação turística de Cabo Verde nasceu na ilha do Sal onde havia um aeroporto internacional. Pode-se afirmar que investimentos de maior expressão obedece a esta lógica: primeiro infra-estrutura básica de acesso a ilha, depois então investimentos de vulto. O caso da ilha de Boa Vista é um exemplo interessante. E os grandes investimentos acabam sempre por estimular fluxos de bens e pessoas que demandam preferencialmente o transporte aéreo.

Publicado em 06 de Outubro de 2008, no site:
http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=20705&idSeccao=527&Action=noticia

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