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terça-feira, 14 de setembro de 2010

GESTÃO PARTICIPATIVA: A PALAVRA AOS EMPREGADOS


No momento em que o ideal da democracia permeia toda a vida da nação cabo-verdiana não deixa de ser oportuno reflectir sobre um tema cujo conteúdo não só se identifica com o referido ideal, como também pode lhe servir de instrumento para veiculação pratica no ambiente organizacional. O assunto em questão é conhecido por gestão participativa.

A gestão participativa é um conceito genérico que comporta no bojo varias nuances de significado, designando desde as formas mais simples de participação, como a participação simbólica nos lucros da empresa, o conselho operário, o cooperativismo; as formas mais avançadas como a co-gestão e a autogestão.

Com efeito, é importante notar que estas formas de participação na gestão das empresas não são conceitos heterogéneos mas, correspondem a diferentes estágios de evolução das reivindicações da classe operaria pelo que guardam entre si um elo comum que os fazem reunir sob o mesmo denominador. 

Assim sendo, a gestão participativa, latu sensu, distingue uma certa filosofia de gestão empresarial caracterizada basicamente por um grau maior ou menor  de descentralização do processo de tomada de decisão e/ou pela participação dos trabalhadores no resultado financeiro da empresa.

Em Cabo Verde ouve-se frequentemente falar da necessidade premente que há de “mudar a mentalidade” dos funcionários, de elevar a moral dos mesmos como condição básica para que se possa atingir um nível de desempenho satisfatório nas empresas, particularmente nas publicas. É do conhecimento de todos que a produtividade média da mão-de-obra no nosso pais (como nos demais países subdesenvolvidos) é extremamente baixa. A qualidade dos produtos e serviços das nossas empresas é sofrível e a eficiência não passa de um sonho adormecido no horizonte da esperança. É obvio que esta conjuntura é resultado da conjugação de uma diversidade de factores entre os quais temos o nível tecnológico existente, envolvendo as maquinas e o processo produtivo, as instalações e o nível técnico dos recursos humanos. Entretanto a par dessas carências existe uma questão de fundo que sempre tem constituído um problema fundamental e de difícil solução para os administradores. Trata-se da motivação humana no trabalho. Uma empresa pode ser detentora de uma tecnologia de ponta e dominar o mais avançado processo produtivo, entretanto, se a moral dos seus empregados for baixa a qualidade dos seus produtos, certamente, não corresponderá àquela esperada desses equipamentos.

A motivação dos operários sempre constituiu um ponto marcante na historia do pensamento administrativo e os pensadores não pouparam esforços no desenvolvimento de teorias pertinentes ao assunto. Taylor e seus seguidores, por exemplo, propuseram a concessão de incentivos económicos como forma de equacionar o problema. Os fundadores da Escola de Relações Humanas, em franca divergência ao postulado mecanicista de Taylor e com base em experiências controladas, estabeleceram novos princípios de gestão de recursos humanos para elevar a moral dos trabalhadores. Princípios esses que privilegiam factores de natureza socio-psicológica como a segurança no trabalho, o reconhecimento de mérito, a integração social no grupo de trabalho, entre outros.

A gestão participativa não descarta a validade desses factores mas toma ao pé da letra a ideia de que “o homem tem a tendência natural de se opor a tudo quanto não opinou” e assim destaca sobremaneira a necessidade de ouvir e aproveitar o quanto possível as sugestões dos empregados. É uma forma de estimular a iniciativa e a criatividade de cada  participante da organização e, por conseguinte se abre a possibilidade de catalisar todas as potencialidades dos recursos humanos da empresa. Efectivamente, uma organização é demasiada complexa para ser tangida tão somente por uma pessoa ou ainda que por um reduzido numero de pessoas. Os empregados como ninguém conhecem, nos mínimos detalhes, a realidade do seu local de trabalho numa versão bem diferente daquela  apresentada ao dirigente através de relatórios recheados de números gráficos e mapas que, na maioria dos casos , não passam de mero cumprimento de uma exigência burocrática formal.

A administração participativa é uma moderna filosofia de gestão que implica a mudança profunda da consciência de chefias e subordinados no sentido de estabelecer um ambiente novo de relações humanas no trabalho. Seu ponto forte é a participação activa de todos os membros da organização, tendo por objectivo a condução eficiente dos negócios da empresa.

O estilo de liderança exercido na empresa é um dos aspectos organizacionais cuja redefinição assume importância fundamental para o sucesso da implantação da gestão participativa. É por isso que o estilo clássico do dirigente de cartola, intransigente e intolerante, acostumado a distribuir ordens sem jamais aceitar discuti-las com os subordinados vem desaparecendo do cenário empresarial nos países avançados. Nesses países, as forças produtivas evoluíram a tal ponto que a correlação de forças exige, para o equilíbrio do sistema, novos e modernos métodos de administração. Nos países onde vigoram regimes políticos de natureza social democrática, a gestão participativa conhece a sua expressão mais avançada, ocupando a Alemanha posição pioneira na aplicação desses princípios. É de salientar que o estado de organização sindical, o nível cultural e de consciência de classe dos trabalhadores, o estagio de produção são, entre outros, os factores que constituem pressupostos básicos para a implantação da administração participativa.

Voltando à ideia que serviu de introdução ao texto, pode-se afirmar que a gestão participativa corresponde ao exercício da democracia no contexto empresarial. E neste ponto seria interessante reflectir sobre a seguinte questão: Se os cidadãos podem livremente escolher o representante máximo da nação cuja responsabilidade é de longe superior a de um responsável de uma unidade económica, por que não podem nos respectivos postos de trabalho eleger seus dirigentes. Seria uma oportunidade salutar para provarem, no seu habitat, o gosto da democracia.

Publicado no Jornal "A Semana" de 13 de Setembro de 1991, (Praia, Cabo Verde).

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